sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Como aplicar o paradigma paraconsistente com sucesso? Muitas vezes percebemos intuitivamente que uma situação (uma teoria, ou uma certa área intelectual) tem uma certa "vocação" paraconsistente, ou poderia ser melhor vista do ponto de vista paraconsistente. Mas como explicar isso, ou mesmo expressar este ideia em termos formais? No artigo a seguir, com Martin Caminada e Paul Dunne propomos três postulados necessários (mas não suficientes) para que uma abordagem possa ser repensada como paraconsistente. Isos abre as portas para uma vasta gama de aplicações do paradigma paraconsistente, que me parece algo que a comunidade pesegue há bastante tempo. Damos três exemplos ilustrativos: argumentação abstrata (com diagramas), programação lógica e lógica de default. "Semi-stable semantics" Caminada, M. W. A., Carnielli, W. A., Dunne, P. E. Journal of Logic and Computation Advance Access 10.1093/logcom/exr033 First published online: September 14, 2011 Discussion/abstract In this article, we have stated three postulates (non-interference, crash resistance and backward compatibility) that aim to capture necessary properties for the notion of paraconsistency. That is, our aim is to describe what it means for a formalism to be a paraconsistent version of another formalism. This makes it possible to meaningfully apply paraconsistency to a whole range of formalisms that are fundamentally different to classical logic, which has traditionally been the main focus of paraconsistency. To illustrate the applicability of these postulates outside of the domain of classical logic, we show how they can be satisfied with respect to three non-classical formalisms: abstract argumentation, logic programming and default logic.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Empresas para escrever artigos, escrever relatórios, demonstrar teoremas e inventar conjecturas

Fiquei estarrecido com o artigo ``Escreva bem ou pereça- Cursos e serviços ajudam pesquisadores a redigir um bom trabalho científico''
publicado em PESQUISA FAPESP, n. 162, abril de 2011, pp. 34-42.


O artigo está diponível aqui:
http://dl.dropbox.com/u/6465890/PESQUISA%20FAPESP-%20Escreva%20bem%20ou%20perecca.pdf

No artigo, a FAPESP faz uma descarada publicidade para a empresa Publicase, que tem como sócias as biólogas Marcia Triunfol Elblink e Andrea Kaufmann-Zeh, as quais foram editoras de ``Science'' e ``Nature''. ``Nature'' é publicada pela Nature Publishing Group, uma divisão da Macmillan Publishers Limited:

http://www.nature.com/nature/index.html


e ``Science'' é publicada pela HighWire Press, associada à American Association for the Advancement of Science:

http://www.nature.com/nature/index.html.

É claro que todos devemos aprender, e ensinar, como redigir bem, escolher bem as referências, colocar os resultados da melhor maneira possível,
mostrar a relevância dos resultados, etc., etc. Isso vale para artigos teses, monografias, e tudo o mais que se escreve-- inclusive é usual que se paguem revisores em língua estrangeira, ou mesmo ajuda para editar textos. Mas pagar uma empresa que escolha os tópicos da pesquisa, e que atue quase em co-autoria, me parece um absurdo tão grande comop pagar um maratonista premiado que me empurre na Maratona de Nova Iorque e querer o troféu!

Sim, porque ao ensinar, como redigir bem, escolher bem as referências, colocar os resultados da melhor maneira possível,
mostrar a relevância dos resultados, etc., o objetivo é que a futuro cientista aprenda a fazer isso sozinho!

O texto da FAPESP, na página 36, quase dá a tabela de preços do ``serviço prata'' e do ``serviço ouro'':

``Desde 2008, a Nature Publishing Group (NPG), editora que publica a revista Nature, disponibiliza um serviço de edição de papers. O NPG
Language Editing é dividido em duas categorias. No serviço ouro, o texto é retrabalhado por dois editores especialistas no assunto e revisto por outros dois profissionais. No serviço prata, há um editor a menos no processo. A NPG não faz traduções – e deixa claro que o serviço não implica compromisso de
aceitação do artigo pelas revistas da editora. Outro exemplo é a empresa norte- -americana American Journal Experts (AJE), que reúne uma rede de doutores em vários campos do conhecimento. A AJE começou a operar em 2004. ``


E continua, na p. 38:

``A Unicamp prepara reforços na estratégia de aperfeiçoar as habilidades de redação científica de pesquisadores. Nesse ano, vai oferecer
novos workshops com a Publicase e um seminário com Carl Schwarz, diretor da editora Elsevier, para atingir estudantes de pós-graduação.''

De fato a UNICAMP já fez isso em maio de 2011: foi promovido um certo ``Seminário para Autores e Revisores- Como publicar artigos em periódicos internacionais”, no Auditório DGA da UNICAMP, em 04 de maio de 2011, 10h.

Os palestrantes, cujo preço não sabemos, mas cujo custo somado em pelo menos passagens e diárias assustaria a maior dos pesquisadores que recebem no máximo R$ 4.000,00 por ano, sujeitos a atrozes burocratas, para gastar com viagens e pesquisa, foram Rose Olthof formada em matemática aplicada na Erasmus University de Rotterdam e com mestrados em Literatura Inglesa e Ciência Literária. Atualmente cursando o MBA na Rotterdam School of Management, e Carl Schwarz formado em física pela Utrecht University. Ambos trabalharam (ou talvez ainda trabalhem) para a Elsevier.

Nenhum deles com doutorado ou com carreira acadêmica-- ou seja, a UNICAMP paga a estas pessoas para ``ensinar'' seus professore, inclusive titulares , como ser revisores e como publicar artigos, ao invés de buscar nos seus quadros os cientistas que são editores e revisores internacionais há anos!

Ao invés s de melhorar as revistas que temos, os recursos da FAPEPS agora irão para melhorar o nível dos artigos das revistas da Elsevier, da Science e sa Nature, que depois serão bem indexados pela Web of Science da Thomson Learning, o que vai melhorar o desempeho das ações da Macmillan Publishers Limited Group, da HighWire Press, da Elsevier e da própria Thomson Learning na bolsa de NY!

Será que a FAPESP vai também liberar recursos para pagar gente boa para fazer aqueles procedimentos chatos de laboratório, demonstrar teoremas e propor conjecturas? E para escrever relatórios? Estou procurando sócios para a empresa PROOFCASE, e para a REPORTCASE!

sábado, 16 de abril de 2011

Cono se iniciou a lógica polivalente?

Os sistemas de lógica polivalente (ou multivalente) partem do princípio de que pode haver mais de dois valores de verdade; estes podem ser verdade, falsidade, e meia-verdade, ou mesmo diversos (finitos ou infinitos) graus de aproximação entre verdade e falsidade. Até aí, nada de espantoso; o mais interessante e difícil é de fato *construir* lógicas que operem dessa forma.

Pois bem,; dizem as mal-informadas línguas (ou copiam de quem diz) que Jan Lukasiewics teria "iniciado" o estudo das lógicas multivalentes ao tentar (com sucesso discutível) uma saída filosófica honrosa para o problema dos futuros contingentes de Aristóteles.

Fans de Charles Peirce, o "Aristóteles americano" (!!), clamam que sua lógica trivalente, anterior à de Lukasiewicz, teria sido o início do movimento multivalorado. Outros buscam tal origem em MacColl, Vasil'ev e Post, e até em Kleene.

Defendo, ao contrário, que quem de fato indicou o movimento na direçao dos valores de verdade como elementos reais, e não artifícios "ad hoc", foi Paul Bernays. No artigo

"Paul Bernays and the eve of non-standard models
in logic
"

disponível em
http://dl.dropbox.com/u/6465890/Introducao%20aa%20Logica/On%20Paul%20Bernays.pdf

argumento que Bernays olhava os valores de verdade como elementos necessários a partir de suas provas de independência dos axiomas do Principia Mathematica de Whitehead e Russell. Bernays trabalhava na direção dos geômetras, que não "inventam" retas distorcidas para tentar resolver pendengas, mas chegam a elas quase que de forma necessária a partir da noção do que chamo de "espaço lógico", ou seja, de ampliar os horizontes para evidenciar propriedades antes invisíveis, como a independência do 5. Postulado de Euclides. Detalhes no artigo, que vai sair na Anthology on Non-Classical Logics (Birkhauser).

A briga com os devotos dos santos de plantão, notadamente de Peirce e Lukasiewicz, já está lançada...

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Duas novas resenhas

Acabo de terminar duas trabalhosas resenhas, sobre dois livros bem diferentes:

2) Davide Bondoni sobre Ernst Schröder e suas "Operações do Cálculo Lógico" (

"Parafrasi Schröoderiane, ovvero Ernst Schröder- Le operazioni del Calcolo Logico" em italiano), que vai sair no Logic and Logical Philosophy,

link direto:
http://dl.dropbox.com/u/6465890/Reviews/Review%20Davide%20Bondoni.pdf

e

2) Dov M. Gabbay, Valentin Shehtman e Dmitrij Skvortsov, "Quantification in Nonclassical Logic", Elsevier, 2009, esta para oo Mathematical Reviews,


link direto:
http://dl.dropbox.com/u/6465890/Reviews/Review%20%20MR%20%20Gabbay%20et%20allia.pdf

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Disciplina HF001 - Introdução à Lógica

Disciplina de Pós-Graduação- Curso de Filosofia, IFCH-UNICAMP

Primeiro semestre de 2011


Disciplina HF001 - Introdução à Lógica
Programa:
1. Introdução: histórico e paradoxos.
2. Linguagens formais: indução e recursão estrutural.
3. Semântica dos conectivos clássicos.
4. Formas normais. Conjuntos adequados de conectivos.
5. Conseqüência semântica.
6. Sistemas axiomáticos: axiomática para a lógica proposicional clássica.
7. Teoremas de correção, de completude e de compacidade.
8. Outros métodos de prova: tablôs, seqüentes, dedução natural.
9. Linguagens de primeira ordem. Estruturas de primeira ordem.
10. Axiomatização da lógica de predicados. Completude e compacidade. Aplicações.
11. Tablôs, seqüentes e dedução natural para lógica de primeira ordem.
12. Teoremas de Compacidade e Löwenheim-Skolem
13. As limitações da lógica de primeira ordem.
14. Lógica de segunda ordem.
15. Caracterização da lógica de primeira ordem: o Teorema de Lindström
Ementa:
Curso introdutório de lógica clássica, abordando primeiramente o cálculo proposicional clássico e apresentando as principais técnicas da lógica formal. Estudo detalhado do cálculo de predicados clássico, com exemplos de teorias de primeira ordem. Análise dos teoremas principais: completude, compacidade, Lowenhëim-Skolem e o o Teorema de Lindström.




Bibliografia:
Principal:
Canielli, W. A; Coniglio, M.E.; Bianconi, R. Lógica e aplicações: Matemática, Ciência da Computação e Filosofia (versão Preliminar, incluindo Teorema da Completude para lógica de primeira ordem). Disponível em: http://www.cle.unicamp.br/prof/coniglio/teaching.htm.

Ebbinghaus, H.D.; Flum, J.; e Thomas, W., Mathematical Logic. Springer Verlag, segunda edição (1996).

Secundária
Kleene, S.C., Introduction to Metamathematics. John Wiley & Sons, Inc. (1967).

Mendelson, E., Introduction to Mathematical logic. International Thomson Publishing, quarta edição (1997).

Schoenfield, J.R. Mathematical Logic. Addison-Wesley Publishing Company (1967)

Smullyan, R., First-Order Logic. Springer Verlag (1968).

Smullyan, R. Lógica de Primeira Ordem, (Traducão de Andrea Loparic, Rene P. Mazak e Luciano Vicente). Editora UNESP, 2009

Aspectos filosóficos e conceituais das lógicas não-clássicas

Disciplina Graduação- Curso de Filosofia, IFCH-UNICAMP

Primeiro semestre de 2011



Aspectos filosóficos e conceituais das lógicas não-clássicas

Nível:Graduação
Disciplina: HG903 A- Tópicos Especias de Filosofia da Lógica I

Professor: Walter A. Carnielli
Monitor (PED): Samir Bezerra Gorsky

Ementa:


Abordaremos as motivações histórico-filosóficas bem como as características formais e estruturais dos principais sistemas de lógica não-clássica, incluindo conceituali-zação, axiomatização, semântica e meta-teoremas a respeito de alguns sistemas de lógica intuicionista, modal, polivalente e paraconsistente. Os tópicos serão tratados de maneira introdutória, porém rigorosa.

Programa

1. Introdução
2. Lógica modal
2.1. Motivações histórico-filosóficas
2.2. Sistemas normais. Axiomatização e principais teoremas
2.3 Semânticas de Kripke
2.4 Alguns meta-teoremas

3. Lógica Intuicionista
3.1. Motivações histórico-filosóficas
3.2. Álgebra de Heyting, axiomatização e principais teoremas
3.3 Semânticas de Kripke e semântica topológica
3.4 Alguns meta-teoremas


4. Lógica Paraconsistente
4.1. Motivações histórico-filosóficas
4.2. Taxonomia das lógicas paraconsistentes e principais teoremas
4.3 Semânticas de valorações e semânticas de traduções possíveis
4.4 Alguns meta-teoremas


5. Lógicas polivalentes
5.1. Motivações histórico-filosóficas
5.2. Axiomatização e principais teoremas
5.3 Semânticas tabulares
5.4 Alguns meta-teoremas
6. Discussão e significado: a lógica contemporânea

Bibliografia Básica

L. E. J. Brouwer. 1912, “Intuitionism and Formalism,” Tradução em
íngua inglesa de A. Dresden, Bull. Amer. Math. Soc. 20 (1913): 81–96, republicado em Benacerraf e Putnam (eds.) 1983: 77–89.

Patrick Blackburn, Maarten de Rijke, e Yde Venema. Modal Logic. Cambridge,
2001.

Walter Carnielli e Claudio Pizzi. Modalities and Multimodalities.
Logic, Epistemology, and the Unity of Science. Vol. 12. Springer, Amsterdam, 2008.

Walter Carnielli, Marcelo E. Coniglio e João . Marcos. Logics of Formal Inconsistency. In: Handbook of Philosophical Logic, vol. 14, pp. 15–107. Eds.: D. Gabbay; F. Guenthner. Springer, 2007.


Disponível nos CLE e-Prints Vol. 5(1), 2005

ftp://logica.cle.unicamp.br/pub/e-prints/vol.5,n.1,2005-revised.pdf

Susan Haack. Filosofia das lógicas. Tradução de Cezar Augusto Mortari e
Luiz Henrique de AraújoDutra. São Paulo: Editora UNESP, 2002.

Sítios Internet


Joan Moschovakis. 'Intuitionistic Logic' . Stanford Encyclopedia of Philosophy
http://plato.stanford.edu/entries/logic-intuitionistic/


Siegfried Gottwald. 'Many-Valued Logic' .
Stanford Encyclopedia of Philosophy
http://plato.stanford.edu/entries/logic-manyvalued/


Walter Carnielli e Marcelo E. Coniglio. 'Combining Logics'.

Stanford Encyclopedia of Philosophy

http://plato.stanford.edu/entries/logic-combining/


quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Como demonstar em lógicas modais manuseando polinômios

Uma das ideias mais interessantes que me ocorreu foi tratar expressões lógicas por meio
de polinômios formais sobre corpos finitos. Mostrei que isso pode ser feito com lógicas polivalentes
finitárias em geral (incluindo a lógica clássica, obviamente), com lógicas paraconsistentes, e com o fragmetno monádico da lógica de primeira ordem. Recetnemente, com meu ex-estudante Juan Calos Agudelo, agora professor
em Bogotá, Colômbia, mostramos que várias lógicas modais podem ser tratadas por meio de polinômnios,
inclusive (por meio da conhecida tradução de Gödel) a lógica intuicionista.

O artigo "Semantics and Proof Method for Modalities" (Juan Carlos Agudelo e Walter Carnielli) vai sair no "The Review of Symbolic Logic", e já apareceu online:

The Review of Symbolic Logic
doi: 10.1017/S1755020310000213
Published online: 14 Set 201

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Abstract

A new (sound and complete) proof style adequate for modal logics is defined from the polynomial ring calculus (PRC). The new semantics not only expresses truth conditions of modal formulas by means of polynomials, but also permits to perform deductions through polynomial handling. This paper also investigates relationships among the PRC here defined, the algebraic semantics for modal logics, equational logics, the Dijkstra–Scholten equational-proof style, and rewriting systems. The method proposed is throughly exemplified for S5, and can be easily extended to other modal logics.
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