Para
meus estudantes de Lógica e Pensamento Critico, interessados em
ver casos reais de bobagem por falta de cuidado em identificar as
fontes. Reproduzido de:
O caso não é único, vejam também O “boimate” da Folha, Observatório da Imprensa, Luciano Martins Costa em 22/02/2012 na edição 682
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/o_ldquo_boimate_rdquo_da_lt_i_gt_folha_lt_i_gt
O
ano era 1983. A Revista Veja, então com 15 anos de
história, cai no conto da revista inglesa New Science, que em
todo 1° de abril costumava soltar notícias absurdas sobre
descobertas científicas. Naquele ano, a publicação britânica
noticiou a descoberta do “fruto da carne”, derivado da fusão
da carne do boi e do tomate, batizado com o sugestivo nome de
“boimate”.
Para
a Veja, este constituiu-se, sem dúvida, no mais sensacional ”
fato científico” daquele ano e assim publicou uma reportagem na
sua edição de 27 de abril. Na verdade, tratou-se da maior
“barriga” (notícia inverídica) da divulgação científica
brasileira.
O
autor da gafe foi o diretor de redação da revista na época,
Eurípedes Alcântara. Inclusive, ele se tornou uma entidade
mitológica no jornalismo brasileiro. Ele ficou tão empolgado com
a matéria que nem percebeu as pistas que a New Science colocou no
texto. Além da idéia já inicialmente absurda, a revista disse
que a descoberta havia sido feita pelo Dr. McDonald’s
(referência a lanchonete) na Universidade de Hamburgo, Hamburguer
em inglês.
Com
o texto original nas mãos, Eurípides convocou o correspondente
da Veja na Alemanha para repercutir junto a comunidade científica.
Sabendo da tamanha bobagem, ele não aceitou trabalhar nesta
matéria e acabou sobrando para um repórter entrevistar um
engenheiro genético da USP, Ricardo Brentani. No primeiro contato
do repórter, o cientista disse ser impossível tal experiência.
Com a pauta nas mãos e precisando de uma boa declaração, o
repórter insistiu mudando a pergunta para “Mas suponhamos
que…”. O geneticista caiu e estava aí a maior barriga do
jornalismo científico apoiada por alguém da USP.
Dentre
os absurdos da matéria, que você pode ler na íntegra abaixo, o
seguinte trecho: “a experiência dos pesquisadores alemães,
porém, permite sonhar com um tomate do qual já se colha algo
parecido com um filé ao molho de tomate. E abre uma nova
fronteira científica”.
A
descoberta do engano foi feita pelo jornal O Estado de S. Paulo
que, após esperar inutilmente pelo desmentido, resolveu ” botar
a boca no mundo” no dia 26 de junho.
Finalmente,
com o objetivo de pôr fim ao caso que já divertia as redações,
a Veja publicou, na edição de 6 de julho, ou seja, depois de
dois meses, o desmentido: ” tratou-se de lastimável equívoco”.
E justificou-se, explicando que é costume da imprensa inglesa
fazer isso no dia 1º de abril e que, desta vez, havia cabido à
revista entrar no jogo, exatamente no ” seu lado mais
desconfortável”.
Confira
a matéria na íntegra em um scan da revista original publicado no
blog do Nassif.
Detalhe especial para o lide: “Familiarizados com as delicadas
estruturas da células…”
Agora
destaque para o infográfico da Veja. Além do absurdo, vale a
pena para ver como era feito sem o auxílio de computadores.
Aqui
segue uma carta do leitor publicada na edição seguinte a do
Boimate. Hilário!
|
MAIS:
http://veja.abril.com.br/30anos/p_114.html na ediçao VEJA coloca a a culpa nos cientistas:
“ Depois de ouvir cientistas brasileiros respeitados, VEJA publicou uma reportagem a partir de uma brincadeira de 1 de abril da revista New Scientist...”
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